Esta entrevista foi concebida para a revista Contigo, o final é bem interessante meninas....
Carismático, jovem, em início de carreira na TV, Marco Pigossi é antes de tudo um fofo, no melhor sentido da palavra. Pé no chão, não se deslumbra com o sucesso de seu personagem Cássio da novela Caras & Bocas e conta que terminou um namoro de três anos para se dedicar ao trabalho. Batalhador, fala com carinho da mãe Marines, sua maior tiete, e relembra o começo da carreira quando carregava os cenários das peças nas quais atuava. Como todo menino, tem seus desejos e aproveita a solteirice para curtir, sempre guiado por uma consciência de que a vida é muito mais que azarar.
Você trabalhou em Eterna Magia, Queridos Amigos e Um só Coração e veio o convite do Walcyr Carrasco. Você imaginava que o seu personagem Cássio ia se desenvolver tanto assim?
Não foi um convite, eu fiz o teste para a novela. O personagem não era para ter esse espaço na história porque ele não estava na sinopse principal. Com certeza ele ganhou muito espaço na trama, o que é muito legal. Sempre que a gente começa um trabalho, esperamos, não digo aumentar o papel, mas ter um sucesso, que o personagem agrade. Quando isso acontece, é muito gostoso.
E o seu papel só vem aumentando, certo?
Eu vi que o papel do Cássio tinha crescido porque ele intermediava o conflito de outros personagens e de repente ele se viu no próprio conflito que é o fato dele ser gay e ao mesmo tempo estar apaixonado por uma mulher e teria uma história com ela. Foi aí eu percebi que o personagem estava criando vida e estava bacana.
De onde vem o carisma do Cássio?
Eu acho que é do jeito dele, ele é um personagem politicamente correto. Ajuda todo mundo sempre, não prejudica ninguém. As crianças adoram o Cássio e criança não tem essa de homossexualidade. Elas simplesmente gostam daquela figura que agrada. E tem o cômico também, comédia agrada todo mundo. O cômico tem mais chance de agradar.
Por quê?
Porque acho que a gente tem tanta coisa na cabeça e é bom mergulhar numa história que te diverte, te tira da realidade dos seus problemas, te faz rir com aquilo.
Você tem noção de quanto as pessoas gostam de você?
Se eu tenho noção? Acho que não...
Não é possível que não saiba?
Eu sei que agradou muito e isso é muito legal. Mas a gente não tem muita noção dessas coisas. É tão engraçado porque do nada você está andando na rua e escuta: rosa chiclete (bordão do personagem) e pensa: ''Meu Deus é comigo, isso é comigo. Nossa.'' Mas eu vejo muito pelo meu blog onde as pessoas falam o que querem. Se acham ruim, se acham bom. Então, o maior retorno que eu tenho é deles.
Internet é bom pra essa interação..
É, porque não vou sair na rua perguntando o que as pessoas estão achando. Mas dá pra sentir o carinho. E é legal. Nunca senti preconceito ou uma cantada pesada. Estaciono o carro e o flanelinha grita: ''Aí, choquei.'' Os caras sempre falam: ''minha mulher te adora, minha filha''. É sempre minha mulher ou minha filha, né (risos). Na hora de tirar foto, eles dizem: ''já que eu estou aqui eu vou tirar foto com você também, não que eu queira.'' Sei. (risos)
Você falou em preconceito. Ficou com medo de fazer esse papel, com medo de errar?
Eu não fiquei com medo. Fiquei um pouco receoso porque é um personagem complicado. Se você não fizer uma coisa extremamente verdadeira e sincera, fica muito difícil. Mas eu conversei muito com gente que já tinha experiência. Eles falaram uma coisa que eu peguei: ''você está ali representando uma pessoa, o seu personagem, e você levanta a bandeira e defende aquela pessoa não um meio, uma sociedade''. O gay que eu faço na novela ele é afeminado, é estereotipado, mas é aquela brincadeira dele. Porque aquela pessoa é assim. Existem pessoas assim. Eu recebi algumas ofensas do meio homossexual falando que estava difamando o meio. Eu acho que não é isso. O homossexual que eu faço é assim, mas existem diversos jeitos. Quando eu coloquei na cabeça que eu defendo o meu personagem não tive problema porque comecei a filtrar o que é valido e o que não é.
Você acha que faz bem o seu personagem?
Eu acho que o humor me protege no sentido do estereotipo. Se ele não fosse estereotipado ele não seria ser engraçado. Então, a brincadeira é essa. Mas não de maneira pejorativa, pelo contrário. Porque ele sabe como ele é, ele tem essa consciência. Então, isso me ajuda. É um trabalho simples na verdade. Difícil seria fazer uma coisa interna, um conflito verdadeiro. O humor me dá um porto seguro para fazer esse estereótipo, essa brincadeira.
Muitos casais de novela não dão certo ou são muito criticados. O seu com a Maria Zilda tinha tudo pra dar errado e deu supercerto?
É porque a Zilda é maravilhosa, tudo que ela faz dá certo. Quando soube que trabalharia com ela fiquei superfeliz. A gente combinou fazer uma coisa extremamente verdadeira. Porque é uma coisa diferente, uma mulher de seus 50 anos, que já deu um golpe do baú em 30 mil pessoas, interesseira, que trai o marido, terminar com um moleque de 20 anos, gay. Ou a gente acredita ou esquece que não vai dar certo. É assim com os meus bordões. O rosa chiclete, o choquei, o verde hortelã. Tenho que acreditar que o meu personagem falaria. A gente acabou pegando uma amizade muito bacana, eu tiro sarro com a cara dela ela zoa com a minha cara. Eu pergunto muita coisa pra ela porque a Zilda é uma puta atriz. Foi surgindo, dando certo.
Quando eu era criança a Maria Zilda era a mulher que eu queria ser quando eu crescesse...
E era a mulher que todo mundo queria ter
Você acha que as pessoas assistem à novela esperando te ver?
Eu ouço as pessoas na rua dizendo que assistem à novela só por minha causa. Não sei se isso é verdade ou se falam para me agradar. Mas eu ouço bastante, realmente.
Isso te choca?
Assusta um pouco, você anda na rua e é parado por todo mundo. Todo mundo sabe quem você é. Estava acostumado a não dever nada para ninguém. Porque você tem que se colocar. Ter postura, você passa a servir de referência pra muita gente. É muito complicado essa fase porque as pessoas te colocam como um ser mágico. Elas dizem: ''Nossa, É o Cassio da novela'', elas querem te pegar para tirar foto. E você tem que tomar muito cuidado com isso. Dizer: ''não, eu sou igual a você.'' Tem que ter esse cuidado, é um processo engraçado.
Seu sucesso traz muita expectativa para os próximos trabalhos. Mexe com você?
Sempre mexe um pouco. Não tem como ignorar. Tem uma expectativa grande sim, o personagem agradou. Acabo criando uma expectativa, fico com uma vontade maior que as coisas funcionem. Mas ao mesmo tempo, tenho que me policiar pra não deixar o sucesso me mudar em nada. Não tenho que me privar de nada. Ás vezes, você não está com paciência e evita de passar no shopping. Você pensa: ''hoje eu não vou porque eu estou super de mal humor e não quero ser mal educado com quem gosta de mim''. Por mais que você esteja estressado chega uma pessoa e fala que adora o seu trabalho, que se diverte com isso. É uma delicia. É o que eu quero.
Você sente que a sua carreira está em que fase?
É uma fase engraçada porque televisão é uma coisa muito gostosa de fazer. E tem aquela história de ser ator de teatro, de TV. Sou formado na profissão de ator. É uma profissão que tem muito preconceito no próprio meio. O ator de teatro tem preconceito com ator de televisão que tem preconceito com ator de musical que tem preconceito com o de cinema. A coisa é muito bagunçada, o sindicato é uma zona. Então, gente. Vamos nos unir. Estar na TV não significa não trabalhar no teatro. Pelo contrário, uma coisa abre portas pra outra. A TV expande a carreira em todas as vertentes dela. É uma fase muito positiva pra mim. A TV é o meio mais visto por todos, então vai me abrir portas para fazer outras coisas que eu queira. Tô numa fase de começo de muita coisa.
Você mora no Rio e sua família ficou em São Paulo. Como ficou a relação de vocês?
Minha mãe é supertiete, ela me acompanha desde os 13 anos, me levando para os teste, ajudando levar o cenário no carro, indo comigo em tudo. Ela Sempre me deu força. Nunca no sentido deslumbrado, do tipo quero que meu filho seja uma estrela. Ela sempre viu minha batalha, de ficar no Rio sem trabalho, essas coisas.
Seus bordões foram criados por você?
Não, foram criados pelo Walcyr. Cada vez que eu leio, eu morro de dar risada.
Você está feliz.
Tô super feliz. Trabalhando muito. É muito gratificante. Não podia estar mais feliz, foi o que eu sempre quis. E espero que tenha muito mais por vir.
Você terminou um namoro quando foi morar no Rio?
Terminei um namoro de três anos por causa da novela. Fazendo a novela, tenho que ir a jantares, ir em festas e tem fim de semana está tudo marcado pra se ver e tenho que gravar na última hora. Terminamos numa boa, ela é minha amiga, a gente se fala numa boa
Ela deve ficar feliz por você...
Tá super feliz. É difícil terminar um relacionamento de três anos. É uma amputação. Então, talvez acabando a novela eu volto pra São Paulo e quem sabe? (dá um sorriso tímido) Ou não, também. Outro dia saiu uma notinha dizendo que eu estava curtindo a noite com uma morena. Ai ela me ligou brincando. Quem é? Com quem você está? Ai eu respondi: também não dá né, você quer o quê? Mas está tudo numa boa.
A mulherada chega em você?
A mulherada é muito curiosa. Elas vêm e perguntam: ''E ai?'' Elas querem saber se o personagem é igual ao ator ou não. Confesso que às vezes eu aproveito e digo: ''ah, você quer saber? Então vamos ali que eu te mostro (risos)''. Mas só quando vale a pena, claro. E também trabalhando tanto, não dá tempo pra isso.
Sei. E quando vale a pena?
Quando me interessa. Já foi a fase de pegar geral, fazer loucuras. Hoje rola quando tenho um interesse posterior.
... e ai ? é ou não um final iper interessante???